American Horror Story é uma das séries de terror mais conhecidas ao redor do globo. Lançada em 2011, possui até o momento 10 temporadas - cada uma com aproximadamente 10 episódios de 50 minutos. Graças à sua enorme estreia inspirada em um acontecimento real, uma narrativa de personagens profundos que marcaram a história do audiovisual e um elenco capaz de segurar o tranco desde Murder House, AHS acumula com o passar dos anos mais de trinta indicações e acumula nove prêmios incluindo Emmys e Globos de Ouro. Se utilizando de narrativas isoladas por temporada e focando em diferentes núcleos em cada uma delas, o marcante horror psicológico contido nos episódios se mantém intenso até meados da oitava temporada. 
   Coven, terceira temporada dessa série, conta a história de um clã escondido de bruxas de Nova Orleans. Através de diferentes núcleos acompanhamos as vidas dessas mulheres, seus conflitos consigo mesmas - o voodoo e a disputa por poder - e com aqueles de fora - os caçadores. Misty Day é apresentada ao público como uma bruxa que foi publicamente queimada num vilarejo religioso distante, mas logo se descobre que a garota não apenas havia ressuscitado mas também vivia numa cabana afastada num pântano perto de onde se localizava o clã. Misty tem seu primeiro contato com as bruxas ao se perder após sua volta à vida e acabar ajudando a personagem até então principal Zoe - a novata - a cuidar de um garoto que a mesma havia, de maneira inconsequente, ressuscitado, e possibilitando o desenvolvimento da narrativa como um todo. Algum tempo depois, após ser alvo de caçadores, Misty vai até o clã, alerta-as sobre a ameaça iminente - iniciando um novo nicho narrativo - e pede ajuda. A bruxa se torna íntima da filha da até então líder, Cordelia, e aprende a lidar com seus próprios poderes, se tornando parte essencial para a estrutura do clã. 
   Misty sofre rejeição por parte de um dos membros do clã e é assassinada, o que faz com que Cordelia - que a estimava muito - cegasse a si mesma com uma tesoura buscando receber de volta o poder que possuía antes de ter sua cegueira curada para descobrir o paradeiro da bruxa, e acaba voltando a ser a mais poderosa do clã. Novamente ressuscitada, a bruxa se torna uma opção de sucessão para a liderança do clã e participa da cerimônia das 7 Wonders, falhando na última das provas e ficando presa em seu inferno pessoal para todo o sempre. “Todo o sempre” sendo um modo de dizer, afinal, em Apocalypse, oitava temporada da série, Misty é resgatada do inferno pelo próprio anticristo, para depois ser apagada da realidade, e depois resgatada novamente. De maneira geral, a personagem tem uma participação essencial na trama devido a sua conexão com Cordelia e seu poder de ressurgimento que mantém vivos uma gama de personagens assassinados mais de uma vez.
   Escolhi Misty Day devido ao fato de esta ser uma das personagens que mais possuem meu apreço dentro do universo de American Horror Story - e apresentar um certo conforto em meio ao terror e desespero que essas narrativas sempre trazem. A bruxa a princípio não tem consciência de seus poderes e faz o bem em meio aos religiosos de seu primeiro lar - sofre uma rejeição atrás da outra e se sente sozinha no mundo desde o começo. Ela escolhe morar sozinha e acredita que um dia encontrará sua própria tribo, que realmente a entenda e a acolha, assim como sua cantora favorita, Stevie Nicks, conta em suas músicas. Ela é construída como uma pessoa simples e sem muita noção da vida na cidade, mas que possui uma força descomunal e poderes que chamam muita atenção - se destaca mesmo sem querer. A personagem é rejeitada novamente quando pede para que Zoe faça companhia a ela e esta apenas se vai, sem dar mais notícias. É apenas quando encontra em Cordelia um lar, e aprende sobre si mesma que a personagem começa a se desenvolver, aprimorando seus poderes e descobrindo como lidar com outras pessoas após uma vida de auto isolamento.Devido à constante rejeição, Misty desconhece seu próprio valor, inclusive desacreditando as outras bruxas que diziam que ela poderia ser a próxima líder do clã, passando a aceitá-lo apenas mais tarde com a ajuda de Cordelia.
    Além de tudo, pouco tempo depois de ter sido assassinada por uma das bruxas do clã, Misty ressuscita a mesma após essa ter sido vítima de um abusador. O jeito que a personagem abre seu coração e ajuda todos os que estiverem a seu alcance faz com que ela seja diferente da maioria das outras personagens em American Horror Story, que buscam apenas a redenção pessoal. Outro fator psicológico interessante de Misty está em sua constante luta pela vida - tendo morrido pelo menos três vezes ao longo de sua jornada como personagem - e na insistência por fazer o bem apesar do cansaço e do preconceito que sofre - tanto por ser iletrada quanto por ser ingênua. A dor da solidão da personagem é contrastada com a compaixão e a bondade que se mantém presentes na psique da mesma do começo ao fim de sua história.
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